segunda-feira, 22 de outubro de 2007

.We hope that you choke.

'...don't get any big ideas, they're not gonna happen...'







Se um dos maiores jornais de Pernambuco só publicou sua resenha sobre o In Rainbows ontem, também fiquei mais tranqüila de ser uma das últimas a dar minha opinião sobre o sétimo álbum de estúdio do Radiohead. E é difícil falar de cara sobre uma banda que tem tanta influência na minha vida musical e pessoal. Por isso, resolvi esperar e escutar e escutar e escutar pra poder tirar minhas conclusões. E devo adiantar que sim, foram boas, quer você concorde com elas ou não.

Há dez anos, o mundo da música se surpreendia com o Ok Computer – na minha humilde opinião, ainda o melhor disco da banda – para logo em seguida ficar mais estarrecido ainda com o Kid A, a grande obra prima do Radiohead segundo os críticos e grande parte dos fãs. E foi aí que se pensou que Thom Yorke e cia. tinham enlouquecido e era o fim do grupo de Oxfordshire. Amnesiac e Hail to the Thief vieram provar que não, que o que a banda gostava mesmo era de chocar. Afinal, já tinham deixado isso claro na música “Exit Music (For a Film)”, do álbum de 1997. A cada lançamento, uma inovação, seja na música, nas letras ou no marketing, como foi o caso do In Rainbows. Disponibilizar o disco para download no próprio site no esquema “pague quanto quiser” foi uma grande sacada, há de se concordar. Os fãs já iriam baixar o disco em qualquer outro limbo internético mesmo, por que não brincar mais uma vez com todo mundo fazendo-os se questionar quanto pagariam por um download de músicas de uma banda que você realmente gosta?

Algumas pessoas sim, pagaram o preço de um cd normal, em
libras diga-se de passagem. Eu confesso, baixei de graça mesmo. Isso porque sei que comprarei o cd quando sair nas lojas. É isso o que eu faço com os discos do Radiohead. Eu realmente gosto da banda e compro cds originais, mesmo tendo-os em mp3 também. Mas confesso que não sei se se a única forma de obter o disco fosse o download pago, eu pagaria um valor de um disco normal. Talvez sim se a minha situação financeira fosse boa.

Mas enfim, o fato é q
ue começou toda uma polêmica acerca do mundo da música e o que acontecerá com o cd e a indústria fonográfica. Na minha opinião, sinceramente, o cd continuará aí como o vinil continua, mesmo sendo raridade. O próprio Radiohead disponibilizou no site a versão física do In Rainbows em vinil num pacote com mais um cd com oito músicas inéditas e um monte de coisinhas e que custa "somente" 148,00 dinheiros brasileiros (esse aí eu espero ganhar de alguma alma boa de natal...hahaha), pra depois – em dezembro – lançar o cd nas lojas. Muitos artistas copiarão o Radiohead, como o Beck, que já disse que adotará a política do quinteto britânico.

Vamos combinar que sim, de um jeito ou de outro, enfraquecida ou não, a indústria fonográfica sempre arruma uma for
ma de se manter viva. E talvez deixe alguns magnatas falidos, talvez não, porque essa é a grande sacada, que o Radiohead tem a cada álbum e que invariavelmente outros artistas copiam, e fazem com que as gravadoras, majors ou independentes, se adaptem aos novos formatos ou pereçam. E isso se chama evolução. E ainda digo mais: sem necessariamente ter que deixar pra trás os antigos meios.

Inovações e polêmicas à parte, o grande trunfo do In Rai
nbows, depois de todo o oba-oba, é a música em si. Desde o Ok Computer eu não via tanta harmonia entre os elementos que compõem as músicas do quinteto. O Kid A e o Amnesiac tinham muito experimentalismo porque era a fase mesmo de testar com o público e os críticos as muitas misturas que eles vinham fazendo, fosse isso positivo ou não. A ousadia era (e ainda é) fundamental. No Hail to the Thief, a coisa já foi tomando mais forma enquanto finalmente no In Rainbows, o Radiohead conseguiu o equilíbrio entre o experimentalismo e o rock 'n' roll/jazz/pop/whatever. Li em alguma crítica que o Radiohead hoje pode se enquadrar no jazz, rock, eletrônico ou o que quer que seja porque a variedade de sons e estilos entre as músicas é tanta que não há definição exata pro som da banda. Creio que há apenas de se concordar que é música de qualidade. E de uma criatividade pouquíssimas vezes vista na história da música.

Enquanto escrevo minha opinião sobre a grande discussão dos últimos dias, escuto pela enésima vez o disco, que logo na primeira audição já tinha me ganhado com “15 Step”. Creio que seja a mais pop, misturando batidas eletrônicas com alguns sons de teclado, guitarra e sintetizadores. Fui numa festa semana passada, tipo, há poucos dias do lançamento do álbum, e já estava lá, "15 Step" bombando. Jonny Greenwood e Ed :* O'Brien tiveram que trabalhar bastante neste álbum, já que as guitarras voltaram com tudo. Em “Bodysnatchers” elas são extremamente perceptíveis e deixam a música dançante mesmo sem ser eletrônica ou indiezinha. Numas das melhores faixas do disco, “Weird Fishes/Arpeggi” o experimentalismo e muito menos as guitarras são deixados pra trás em conjunto com uma letra prima de "Myxomatosis" do Hail to the Thief.

Falando em letra, tem também a linda “Nude” – na minha opinião a melhor do disco. Mesmo sendo um pouco
creep, soa sexy, calma e com a voz de Thom Yorke entrando como mantra nos ouvidos, pra você se deixar levar, de olhos fechados. Lembrou-me “Tongue” do REM em alguns momentos. Percebam: lembrar não quer dizer parecer, por favor. Mas se é pra falar que o Thom continua creep, podemos falar de “All I Need“ e “House Of Cards”. “I am still with you because there are no others / You're all I need” ou “I don't want to be your friend / I just want to be your lover / No matter how it ends / No matter how it starts”.

Em “Faust Arp”, o violão reina. Sim! O violão! Com violinos também, pra dar o final touch e deixar a música linda de doer. “Reckoner” e “Jigsaw Falling Into Place” foram as que me chamaram menos atenção, mas ainda assim, as letras e melodias não se deixam intimidar pelas outras músicas. “Videotape” vem fechar o disco com chave de ouro: “This is my way of saying goodb
ye / Because I can't do it face to face / I'm talking to you after it's too late / From my videotape”. E devo dizer: sou muito mais fã da fase pop do Radiohead e até senti uma pontinha de esperança no Hail to the Thief, mas o equilíbrio da força só veio mesmo com o In Rainbows. E desde o Ok Computer que um disco do Radiohead não mexia tanto assim comigo (e com metade do mundo, vai...). Da primeira à última música, todas são boas. Todas mesmo. No álbum de 1997 eu descobri um hino pessoal entre as inovadoras faixas. Dez anos depois, graças ao In Rainbows e às atitudes “we hope that you choke” do seu Thom e cia., confesso que já tenho várias candidatas a companheiras de “Lucky”.


In Rainbows - Radiohead (Independente, 2007)

Top 5:


5- Videotape
4- Weird Fishes/Arpeggi
3- 15 Step
2- House Of Cards
1- Nude